João, nome fictício, chegou no seu carro velho mas parecia bastante gentil. Logo que entrei, estranhei a pergunta: “você quer que ligue o ar ou deixe a janela aberta?”
Em cima do painel, o livro sagrado da sua crença, e no rádio, a emissora de maior audiência do segmento religioso — sem problema para mim, que tenho as mesmas convicções religiosas, mas e se entrar outra pessoa?
Teve tempo de me contar de sua falta de sorte, das agruras da vida, das múltiplas fases de surpreendentes decepções.
Dentre elas, sua maior dúvida: “minha nota foi caindo tanto no outro aplicativo que agora só posso usar este daqui, fui banido sem entender o porquê.”
Pedro, vamos chamá-lo assim, tem uma nota altíssima no mesmo aplicativo.
O carro que ele usa para atender aos clientes é bem mais novo, mas comprado recentemente: conquistou as mais altas notas no aplicativo com um carro popular.
No lugar do rádio numa única estação, Pedro tem um celular com diversas playlists: “dependendo do livro que o cliente traz na mão, da cor da roupa que ele usa na sexta-feira, ou do lugar onde vou buscá-lo, aciono uma das listas com o gênero musical de preferência daquele grupo social” — Pedro estuda Antropologia e é graduado em Turismo.
Oferece dois tipos de balas, ar na temperatura certa, e água sempre gelada que carrega numa bolsa térmica — algumas dessas ofertas um dia foram padrão nos aplicativos: a maior parte dos motorista parou com isso, Pedro continuou.
Pedro um dia agiu dentro do padrão do mercado, mas quando o mercado caiu de padrão, ele manteve o seu próprio padrão: porque quem escolhe qual é o seu padrão é você.
Apesar dos cuidados, seu diferencial matador não são as balas, o ar ou as playlists, mas sim a única coisa que só ele tinha para dar: ele mesmo, o Pedro que ele construiu por escolha e não por imposição.
Pedro desenhou seu serviço a partir da necessidade dos cliente — clientes que ele estuda atentamente.
João utilizou seu serviço para expressar quem ele é — o outro é apenas alguém que passa, em quem ele não tem tempo de prestar atenção.
Qual dos dois você acha que tem mais sorte?
Como João, também costumamos achar que a solução está num novo carro, num novo computador, ou na mais reente versão do software que todo mundo usa.
Quando pensamos assim, erramos.
A solução nunca está naquilo que não temos, mas sim naquilo que não somos: muitas vezes porque não escolhemos nos tornar.
A diferença começa quando eu observo o que os outros esperam de mim, e busco em mim minhas melhores ferramentas — minha mente, minhas emoções, minhas escolhas —, para entregar ao mundo a única coisa que só eu posso dar: o meu jeito de fazer as coisas.
E se você está lendo este texto e sendo Pedro há muito tempo, sem encontrar os resultados que você busca, não desista.
Muita gente errada vai entrar no seu carro, mas na hora em que o passageiro certo aparecer, você não vai precisar se esforçar, apenas seja você mesmo.
Ele vai perceber a diferença.
CARLOS ANDRÉ GOMES é Designer com passagens por agências de publicidade, TVs e gravadoras. Produtor de Conteúdo, Marketing Digital e Projetos Comerciais.